quarta-feira, janeiro 10, 2007

The times they are a-changin'

O passado fim-de-semana foi pródigo no reviver do Futebol (assim mesmo, com letra grande) quando ainda era festa do e para o povo, e não uma indú$tria que desconsidera aqueles que a sustentam. Foi fim-de-semana de Taça de Portugal, e houve, efectivamente, taça.

O Benfica recebeu em casa o modesto Oliveira do Bairro, e mais do que o jogo, o resultado ou a exibição da equipa ou jogadores, o que ficou, para servir de lição (a quem quiser aprender...), foi a festa do Futebol feita às 16h por 35000 pessoas. Meia Luz para ver uma eliminatória, a primeira onde o Benfica entrava, contra uma equipa da II Divisão série C não é só justificada pela desapropriada paragem que o campeonato teve, é um sinal que bastam preços mais justos e horários mais adequados para combater eficazmente a desertificação dos estádios portugueses que (apenas aparentemente) preocupa os dirigentes desportivos.

Foi uma tarde para lembrar tempos não tão distantes assim, em que cada dia de jogo era uma festa, famílias inteiras iam ao Estádio, o sol iluminava a partida durante os 90 minutos e o ambiente era sempre especial: eram tempos em que se começava a sentir a magia da Luz quando ainda se circundava o Estádio naquele anel cimentado exterior, e o burburinho crescente à medida que se descia (ou subia) as escadas nos túneis de acesso às bancadas fazia com que a ansiedade fosse aumentando, e aumentando, até que se vislumbrava um pequeno pedaço verde do relvado: a partir daí era sentirmo-nos extasiados, e cada vez mais pequenos, à medida em que mais relvado, mais bancada e mais pessoas iam surgindo ao fundo do túnel até este acabar, e vermos a Luz em toda a sua imponência. Era impossível aquilo não mexer connosco.

Outras equipas povoavam então o nosso Futebol e, apesar de já não ser do meu tempo, como não fazer referência ao Atlético, que "fez taça" ao eliminar os tripeiros na sua própria casa? Mais do que a satisfação que me deu a eliminação dos do Norte (que também deu, obviamente), foi o relembrar por momentos de uma equipa que nunca há de deixar de ser histórica e é das poucas que conserva orgulhosamente o seu bairrismo, tão característico que era no início do nosso Futebol.

A velha Tapadinha, tal como a Luz, ainda conserva a sua magia.